O público e a arte

Noite de quarta-feira. Você chega em casa e sabe que recebeu um convite. Convite para a abertura de uma exposição de artes. O artista não é um amigo, apenas um conhecido. O que você faz? Opção a: Lê o convite, deixa-o em cima da mesa e liga a TV. Opção b: Fica pensando se alguém importante vai estar presente ou se é interessante comparecer para atingir os eleitores das próximas eleições. E faz alguns telefonemas. Opção c: Observa que é um convite de exposição de artes, nem lê o que está escrito e joga-o direto no lixo, que nem é reciclável. Opção d: Vai ao coquetel apenas para matar um ranguinho. Opção e: Pensa, que bom, uma ótima opção cultural para essa noite. Toma banho e atende prontamente o convite.

Caro leitor, se você assinalou a opção a: cuidado, você corre seriamente o risco de ficar alienado às “ótimas” programações e opções culturais da televisão moderna. Ou então, corre o risco de deixar de viver sua própria vida, somente para viver a vida da novela e comentar sobre ela com seus amigos que, provavelmente, também não devem ter um papo tão diversificado e interessante assim. Se você assinalou a opção b, por favor, faça uma reflexão: Para que serve a vida? Por que você está nesse mundo? Você se interessa apenas na contagem dos votos ou tem a intenção de desenvolver seu potencial interior? Se você assinalou a opção c: vale a pena repensar seus valores e, da próxima vez, recicle, em todos os sentidos. Se você assinalou a opção d, como artista plástica, não sei se agradeço sua disposição em participar da abertura de uma atividade cultural, em “prestigiar” a arte ou, se da próxima vez, realizo uma exposição apenas com suco de laranja light. E, por fim, se você assinalou a opção e: muito obrigada, temos que agradecer sua disposição, seu interesse em aprimorar seus conhecimentos culturais, sua vontade de valorizar a cultura local, em estar rodeado por pessoas interessantes, com um papo legal, que estão empenhadas em apreciar a arte, em discutir assuntos interessantes, em realmente prestigiar o artista que está ali, abrindo sua exposição, desvendando-se totalmente, mostrando sua alma e todos os seus sentimentos em forma de tinta, desenhos e cor.

Desculpe-me se fui rude. Às vezes, precisamos levar um pequeno choque para acordarmos e para que possamos pensar e analisar fatos que não nos parecem importantes. A arte precisa de você. A arte precisa de apreciadores. O artista faz a arte não só para si mesmo, mas também para o mundo. Ele expressa idéias através de sua arte, sugere questionamentos e precisa das inúmeras respostas do público. Dizer que não entende de arte e por isso não participa da vida cultural da cidade não é desculpa, porque todos nós temos nossos próprios gostos, podemos fazer nossas próprias análises. Criar esse tipo de hábito é a melhor maneira de aprendermos sobre a expressão artístico-cultural que nos rodeia. Não adianta viver dizendo que sua cidade não tem opções, que não há o que fazer, talvez você esteja sendo um pouco acomodado, afinal, há muita opção. Há muita gente esperando por você. Apareça!

Por Fabiana Langaro Loos

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