Dias de Inverno

Os primeiros dias de inverno são captados pelo corpo. Mãos e pés gelados, corpo encolhido, cachecol enrolado no pescoço, café para esquentar. “Ai, que saudades do verão”, é o primeiro pensamento que vem à mente. O “inverno austral”, como é chamado no Hemisfério Sul, tem início com o solstício de inverno por volta de 21 de junho, encerrando com o equinócio de primavera, perto de 23 de setembro. Na mitologia grega, Zeus ordenou que Perséfone, sua filha com Deméter, ficasse seis meses com sua mãe e seis meses com Hades, o deus da escuridão. Deméter teria se entristecido, e por causa desses períodos em que ficaria longe de sua filha, teria se originado o outono e o inverno. Será?

Mitologias à parte, o inverno é um pouco mais lento, tudo acontece mais devagar. Os corpos não ficam expostos e os movimentos são mais limitados. Depois de um dia de trabalho, fica impossível se entregar a um banho de mar gelado, mas ainda há os que se arrisquem, porém, o inverno tem suas peculiaridades. Romantismo e glamour são características dessa estação. As pessoas ficam mais bem vestidas e elegantes, é possível malhar sem transpirar, dá para ficar agarradinho embaixo do cobertor, tomar sopinha e chocolate quente, cozinhar um jantar com mais sustança, convidar o amado e abrir uma boa garrafa de vinho, pois inverno é mesmo para ficar juntinho.

Saudades dos dias mais claros, dos corpos bronzeados, de sucos gelados e caipirinhas à beira-mar. No inverno, as pessoas ficam mais sérias, um pouco mais introspectivas. Resfriados e espirros aparecem e os cuidados com a saúde precisam ser redobrados. Cobertores e blusas de lã saem dos armários. Até o totó fica com preguiça, faz seu ninho e, com o rabinho entre as pernas, boceja, antes da soneca, um pouco mais longa que a habitual. Tudo muda no inverno. As cores da água do mar, do céu e das árvores ficam mais escuras. Os dias de inverno não têm tanta alegria como os dias quentes de verão. A praia fica vazia. No interior, a lenha vai tostando no fogão, a roda de chimarrão aquece os lares, a alma e o coração.

O inverno não fica tão gelado quando estamos perto de amigos, quando é possível conversar por horas, gargalhar e esquecer o frio. O inverno é mais sossegado, dá mais vontade de ficar em casa, assistir um filme, fazer pipoca, pinhão e quentão. Com a casa fechada, o cheiro de café passado dá voltas pelo ar e traz uma grande sensação de aconchego. As baixas temperaturas mudam a paisagem, algumas espécies de pássaros migram para outras regiões, ursos hibernam e, em alguns lugares, neve e geadas tomam completamente conta da estação. Como não é possível ficar mudando para aonde está o sol, o homem vai se adaptando às diferentes temperaturas e às mudanças de humores e, com uma xícara de chá quente, vai regulando a batida do corpo, ritmando o compasso da respiração e esperando a próxima estação. Que venha o verão.

 Por Fabiana Langaro Loos

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