Encontros e desencontros

Quando está perto não há tempo, quando está longe quer encontrar. Quem é solteiro quer casar, quem está casado pensa na eterna vida de solteirice, sem tantas obrigações, contas a pagar, discussões de relação ou histórias para explicar. Quando está gordo quer ficar mais magro. E, quando conseguiu perder os benditos quilos extras, percebe que deixou tanta coisa boa para trás, privou-se das doçuras da vida e a dura vida continuou igual e aí, resolveu engordar. Quem tem cabelo crespo quer alisar e é capaz de ficar horas com um produto irritante na cabeça, sob uma técnica charmosamente intitulada escova progressiva, que de progresso não tem nada, apenas segue alguma imposição fashion mundial. Porém, quem é liso também tem seus problemas, deseja mais volume, madeixas soltas e onduladas iguais as de propaganda de shampoo e condicionador e coloca uns rolinhos para encrespar ou, se já não possui mais os bobs de outrora, faz uma trança e voilé. O que o ser humano sabe muito bem é reclamar. PhD no quesito reclamação, levanta a mão se você não. Quando faz calor, deseja o frio. Quando faz frio, somente sabe pensar nas férias de verão, na praia, no sol do meio-dia e na cerveja gelada do quiosque à beira-mar. Quando o termômetro está na casa dos trinta graus, arranja a desculpa que somos mais bem vestidos no inverno, não há suor, há mais classe nos meses de frio, todo mundo fica mais bonito com mais pano por cima do corpo do que apenas com a desnuda roupa de verão, principalmente de biquini ou sungão, quando todo mundo aparenta ser um pouco igual (será?), pois não há bolso para o cartão de crédito, restando apenas classe e educação. E segura a onda para a dissimulação, pois as diferenças aparecem rapidamente com roupa ou não. Quando o ponteiro do relógio chega às sete horas e o despertador faz aquele barulho irritante que dá vontade de parti-lo ao meio, esse indivíduo tão estranho, mais conhecido como ser humano, anseia por mais uns instantes na cama, virando para lá e para cá, mil bocejos e sensações de preguiça, não querendo acordar, muito mesmo levantar. Mas, quando não há compromisso agendado, pula da cama freneticamente e arranja mil afazeres a cumprir. Que coisa mais louca. Seria indecisão, andar na contramão ou coisas da vida corriqueira de um simples cidadão? E o cidadão trabalha e nunca está contente. É preciso entender que cada profissão tem seus defeitos, suas pendengas e seu lado chato. Nem tudo é diversão. Cada qual com suas reclamações, sempre apreciando o trabalho do amigo, que parece ser mais fácil do que o seu. Mas quando muda de emprego percebe que, de perto, nem tudo é igual, legal e gostoso quanto ao que foi vislumbrado de longe. E, obviamente, aparece a decepção. Quem tem dinheiro e um emprego estável procura um espaço para viajar, para usufruir, para curtir a vida. Quem tem folga demais e grana de menos não consegue colocar os planos em prática. Na verdade, encontros e desencontros seguem em busca da felicidade. Afinal, de um modo ou de outro, cada um dá um jeito de sobreviver, de acontecer da sua maneira, de trabalhar no seu ritmo, de acordar no seu horário, de aprender a aceitar seus cachos e seu jeito de ser, mas sempre há remédio para melhorar. É óbvio, mas vamos lá, pare de reclamar e mude o que não lhe satisfaz. Felicidade é aqui e agora, não tem vale para o futuro, nem sobrevive do passado. Como já disse o poeta Bento Nascimento, “Não morra no trevo, não fique nas trevas. Atreva-se”

Fabiana Langaro Loos

 

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