O ponteiro do relógio bate três horas da manhã e os olhos permanecem acesos. A cabeça ainda continua a pensar nos problemas e nas soluções do próximo dia ou da próxima semana, não desliga dos erros e acertos do dia que passou. Você rola para um lado, rola para o outro e o sono não vem. Começa a contar carneirinhos, no número cinco mil, duzentos e sessenta e seis resolve levantar, alongar um pouco o corpo e ir para a cozinha fazer um chá quente e adocicado para ver se a terrível insônia de todas as noites vai embora. Noite após noite é sempre a mesma novela, a dificuldade para dormir, o sono que não vem, a noite que se torna cada vez mais longa e não ajuda a sanar o cansaço do dia a dia. Você já sentiu esses sintomas?

As noites começam a ser de enlouquecer, cada vez você tenta ir para a cama mais tarde, imaginando que, assim, o sono irá aparecer. Compra mais dois ou três travesseiros, fecha bem as cortinas do quarto, breu total, espalha um aromatizador de ambientes, achando que um leve cheiro de baunilha poderá ajudar. Tenta ligar a televisão, mas nenhum programa lhe toma o interesse. Tenta uma música leve (nada de Torture Squad, Sepultura ou Korzus), mas não adianta. Então, desiste e desliga tudo, exceto o ar condicionado, silêncio quase que absoluto. Pensa apenas em baixar a ansiedade e tranquilizar os pensamentos. E nada do sono chegar. Você começa a ouvir os barulhos distantes da rua, o latido do cachorro lá longe, o motor do caminhão do lixo, a telha do prédio vizinho que bate com o vento. Um zumbido fabricado pelo próprio ouvido. Dá-se início a paranóia. O próximo passo é partir para os remédios, sempre uma solução rápida, porém, nada saudável. E, pior, com grandes chances de se tornar um vício. A longo prazo começa a aparecer o cansaço, a dificuldade de concentração, a irritabilidade, enfim, falta de energia e de disposição, ufa!

A vida do dono da insônia começa a virar um caos. A noite vai se aproximando e, com ela, o medo, a angústia e o pânico. É quase como um filme de terror, a diferença é que suas olheiras são reais. É nesse momento que você desiste de cortar os pulsos e toma uma outra atitude, a produção. Desiste de insistir nas tentativas e no sonho do sono rápido e profundo e passa a acreditar que a noite é sua aliada, ótima para estimular a criatividade e diversas atividades para as quais você não tem tempo durante o dia. Passa a criar. Passa a exercitar certos talentos como pintar, escrever, bordar, tocar um instrumento musical (por favor, em baixo tom, senão os vizinhos serão os primeiros a reclamar). Não importa, passa a cultivar o talento oriundo da insônia. Bem, para as olheiras há solução, a indústria de cosméticos é bastante desenvolvida. Para o mau humor do outro dia, florais de bach. Para os bocejos intermináveis, café preto. Só não vale atacar a geladeira, pois a sociedade aceita o sujeito com insônia, mas para obesidade ainda há preconceito, portanto, cuidado.

É engraçado, depois que se começa uma atividade e se desliga da obrigação de dormir, a angústia do notívago é sarada, o estresse é dilacerado e o pânico fica para as noites de sextas-feiras na televisão (pânico mesmo, mas essa é uma outra questão). O sono começa a entrar no prumo e achar seu rumo, encontra seu pulsar próprio e, de repente, leve como uma pluma, você deita e dorme, dando fim às noites mal dormidas de dias que não existem mais, apenas perde os momentos de criação, mas não se pode ter tudo, então, boa noite.

por Fabiana Langaro Loos

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