Não sei

Simplesmente não sei. Não sei o que escrever.  Não sei o que sentir. Não sei o que falar. Mas meus pensamentos são muitos. Um emaranhado de coisas, de momentos, de sensações, de emoções, de lembranças, de tudo. Talvez eu realmente saiba o que eu esteja sentindo, mas não com toda a clareza para explicar em um único texto. Muito menos em um anúncio de jornal. Quem sabe, em uma propaganda bem paga, por que não? Hoje em dia, vale tudo. Troca-se uma vida por cifrões, que lástima.

Talvez eu saiba, especificamente, o que gostaria de escrever, mas talvez seja inoportuno, antiético e de mau gosto. Talvez, de modo bem grosseiro, sejam os copos de vodca que já bebi. Ou, então, as mensagens impublicáveis que troco, por whatsapp, em uma noite de solidão. Ah, a solidão, quem não flerta com ela? Seja de dia, seja à noite, seja contagiada de gente, em meio a uma multidão ou não, a solidão faz parte da vida. Sem a solidão não há comunhão, não há festividade. É a antítese da expansão.

A solidão move o mundo, afinal, queremos estar conectados em tempo integral, mesmo que essa conexão seja algo da nossa cabeça, virtualmente, viramos zumbis da própria imaginação. Ninguém quer dizer que está só. Não queremos estar sós (embora a solidão seja muito necessária para a evolução intelectual da espécie), então, criamos um modus operandi para que a solidão não exista.

Mas a realidade é diferente. No mundo imaginário criamos personagens, situações, amores, obsessões. A vida nada mais é que um coração aflito embriagado de sentimentos. Uma salada de frutas de emoções. Talvez, um pé na melancolia. Todavia, melancolia também está na contramão do mundo contemporâneo e do mundo tão repleto de felicidade (ao menos é o que consta nas redes sociais por aí, ser feliz a qualquer exposição, a qualquer custo, um click fotográfico e o sorriso aparece no rosto, farto e faceiro, mesmo que não seja verdadeiro).

Melancolia não se trata unicamente de depressão, melancolia é um céu estrelado, é o momento oportuno para nos sentirmos tristes. E tristeza é um crescimento interno, uma sabedoria única, um estado de espírito inigualável, que não desejamos a ninguém, porém, a dor é fruto de sabedoria e de muito crescimento interior. Tristeza e dor também são sentimentos necessários à vida. Não basta o amor. Precisamos entender que a tristeza também faz parte da vida. Mas, infelizmente, na vida moderna, a tristeza é tratada como doença, como se esse sentimento não pudesse existir.

Para o romantismo, a tristeza criou tantos versos, tantos corações aflitos e tantas emoções, tanta poesia e tantos parágrafos lindos em livros que nem são mais lidos. Diferentes épocas das histórias, diferentes visões. Diferentes romances. Diferentes amores. Diferentes situações. É inegável, a tristeza faz parte dos nossos sentimentos assim como a felicidade. Não nos sentimos felizes o tempo todo.

Felicidade é um estado de espírito. É um momento. É um resgate, talvez, uma sabedoria que aprendemos ao longo do tempo, a dita felicidade encontrada nas pequenas coisas. A felicidade na meditação. A felicidade de um sorriso. A felicidade de um olhar. A felicidade de uma risada espontânea. A felicidade ao ouvir uma música. A felicidade de um orgasmo. A felicidade de um “eu te amo”. A felicidade de um carinho. A felicidade de ser ouvida sem um celular na mão. Sinceramente, ainda não sei por que escrevo. Talvez, por pura felicidade. Ou, por pura solidão.

(por Fabiana Langaro Loos)

Full Moon 2018

Full Moon (crédito da foto: Fabi Loos) 

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2 thoughts on “Não sei

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