Mundo Lúdico

 

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Cafeteira roncando, escovar os dentes, pão e manteiga na mesa, meio da semana, cachorro bocejando (ainda não sabe que é hora de acordar), silêncio, manhã cinza, todos retomam seus postos no cotidiano, alguns mais lentamente, outros de maneira acelerada. É preciso colocar tintas nos pincéis para colorir não só a tela que ainda aparece branca em cima do cavalete, mas o dia, que para essa época do ano já poderia acordar muito mais ensolarado. Praia vazia, areia sem pegadas, mar calmo. Cada um no seu ritmo, no seu tempo, na sua hora.

Nas escolas o barulho já é constante, a energia das crianças toma conta do local, porque o cinza e o dia feio dos adultos é muito colorido no imaginário infantil, entre brincadeiras, livros, histórias, afeto e risadas. É fato corriqueiro, adulto acorda e já reclama do dia, se tem muito sol, se cai a chuva, se há apenas nuvens no céu. Criança tem um repertório lúdico, com o poder de criar o clima que bem entender, com suas próprias cores, com seu próprio sol. É engraçado, crescemos e perdemos (às vezes um pouco, às vezes muito) esse poder. Na verdade, não está perdido, mas adormecido. Criança se encanta com pouco e se envolve tanto e de tal maneira que o pouco parece muito. E para os adultos, muito é sempre pouco.

A espontaneidade, a pureza, um mundo não programado, o ilimitado e a sinceridade regem o viver infantil que é cheio de encantos. Quando criança recebe uma caixa de lápis de cor e uma folha em branco, não coloca o lápis na boca, faz cara de inteligente e fica a pensar, definitivamente não, criança coloca a mão na massa e passa a colorir, exprimindo todo seu rol de sentimentos. Não desenha pensando no depois, nos outros, no retorno que aquela tarefa irá lhe proporcionar, simplesmente, desenha. E, diverte-se. O que é melhor, diverte-se.

É importante não perder a diversão, o riso solto, a espontaneidade. É preciso aprender a não perder o frescor, a imaginação, o delírio e a cor de todos os dias, mesmo que o dia esteja um pouco sem cor ou nos tons de cinza. É preciso, a qualquer tempo, estimular a imaginação e a criatividade e não procurá-las apenas por necessidade. Faz bem esquecer que existe um mundo esquematizado, manipulado e programado. É preciso aprender a deixar o tempo mais lúdico e, entre compromissos, papéis a assinar e reuniões, encontrar tempo para esse tempo.

É necessário aprender a viver, e não pensar somente como sobreviver em um mundo de gente grande. É preciso re-aprender a viver com os pequenos e lembrar que um dia também fomos assim, retomando as pequenas sensações do dia a dia, porém, imensamente sublimes e encantadoras, capazes de rejuvenescer o corpo e nutrir a alma, fazendo-nos lembrar que o mundo lúdico pode ser real para sempre.

por Fabiana Langaro Loos

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0 thoughts on “Mundo Lúdico

  1. Fabi
    ler o seu texto é pura diversão, numa manhâ em que o mar se quebra, o sol se aquece e as crianças rabiscam mais um dia na cabeça dos adultos programados. Deixar fluir o pincel, assim como as crianças, para colorir antigos dias de pura imaginação!
    bj com arte
    Datti

  2. Poderia redigir 2, 20, 200, 2mil ou 20 mil prolixas páginas a respeito do seu belo e interessante artigo, tantas são as cores e os tons que o mesmo cria em meu sentir e minha mente, que passeia entre a razão e a imaginação. Mas o meu sentir me comprime o verbo, fazendo-me concentrá-lo em poucas palavras, em poucos matizes (se você compreende melhor assim), deixando-me o espaço exato para expressar, numa cor intensa, o que sinto ao ler suas impressões e expressões sobre o mundo das crianças, com quem brincamos ou que apenas vemos… que, um dia, fomos ou que, ainda, somos.

    Enfim, as minhas poucas palavras concentradas em tom profundo são que as tuas me fazem lembrar e sentir a conhecida urgência de que está na hora de também “fazermos” – ou, de alguma forma, “termos” – nossos filhos.

    Um beijo ludicamente apaixonado.

  3. Com os pequeninos deveríamos aprender muiiitas coisas… belas observações… Jesus, sobre as crianças, já disse, em Mateus 18:3,
    “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”

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