A Fabulando andava fora do ar, mas a Lú Zonta como interina estava bem por dentro de tudo, sempre antenada e afiada, dando o recado, muito obrigada! Não há como retornar ao Brasil e não fazer comparações, relembrar momentos, acontecimentos, histórias, micos, lugares, amigos, enfim, viajar é um dos melhores investimentos que podemos fazer na vida, podem até levar sua câmera digital embora, mas tudo fica na memória do viajante (para sempre). Só estando no lugar para saber, portanto, a Fabulando indica, viaje, viaje sempre, para longe, para perto, e viaje também sem sair do lugar, faz bem, não há contra indicação. O único problema é voltar à vida normal, às vezes demora. É o fuso horário diferente, a vida sem rotina, o dia a dia cheio de novidades que surpreendem os olhos e a alma, que nos fazem pulsar mais rapidamente em frente a uma nova paisagem, a uma situação inusitada, a um novo amigo ou a uma nova ponte. Viajar surpreende! Faz a gente ver o mundo diferente e observar como esse mundo é grande, cheio de gente, como tudo é tão passageiro e como damos importância a coisas tão tolas e insignificantes e, ao contrário, como não percebemos em nossas vidas coisinhas pequeninas, porém de imenso valor, mas na falta, na distância, elas vêm à tona e apertam o coração. Saudades também é bom! Viajar revigora, é uma injeção de estímulo aos sentidos. E quando a gente volta, é engraçado, dá vontade de viajar novamente, enfrentar as horas de aeroporto, o mau humor de alguns funcionários da alfândega, porque gente de mal com a vida (para não dizer mal comida), infelizmente, tem no mundo inteiro, mas nada como um sorriso, é o melhor remédio em qualquer lugar desse planeta. Nesses dezenove dias de viagem, foi possível constatar como o europeu, no seu cotidiano, usa as palavras ‘por favor, com licença e muito obrigada’ muito mais vezes que o brasileiro, é algo normal, usual, parte da educação, o brasileiro acaba entrando no ritmo e ficando mais educado, claro, sempre tem aquele que dá “piti” e solta as feras, que horror. As crianças viajam junto com seus pais desde cedo, desde bebezinhos e se acostumam a dividir os pais com o resto das pessoas, com o mundo, comportam-se como gente e aprendem mais rapidamente, afinal, enquanto aqui uma criança precisa ver nos livros Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rodin, Van Gogh, Cézanne, Malevitch, Picasso, Miró, Gaudí, Mark Rothko, Kandinsky, Henri Matisse, Yves Klein, Marcel Duchamp, Mondrian, Victor Brauner, Robert Delaunay, May Ray, Chagall, entre muitos outros artistas (a lista é longa, bastante longa), as crianças de lá observam ao vivo, visitando museus, galerias de arte e a própria rua. Logo, o despertar artístico-cultural urge cedo, ao contrário daqui que, em alguns casos, fica adormecido por longo tempo, hibernando, às vezes, sem hora para acordar (e nunca acordam mesmo). O povo japonês continua viajando, gastando seus valiosos ienes e tirando mil fotos. Estão se libertando da vida robô, mas ainda não aprenderam a melhor maneira de fazer isso. Não curtem o lugar, não sentem, não apreciam, ficam alucinados com suas máquinas fotográficas cada vez mais potentes, e ao olhar uma paisagem através do olho real, ficam impotentes, só sabem dar o clic e rever o clic, e contar um, dois, três, quando mais um flash é detonado. Sem falar que muitos japoneses estão confundindo a liberdade de ser, ver e agir, com uma maneira mal educada, como se fossem os donos do mundo, esquecendo de respeitar o cidadão que está bem ali, ao seu lado. Alemães estão por toda parte, com seus birkenstocks, meias, calças largas e mochilas, são simpáticos, engana-se quem pensa que o alemão é um povo sisudo, de cara amarrada. Oras, é só uma questão de aparência, na verdade, é um povo de coração largo e educação farta. Os parisienses, como todos os franceses, não perdem nunca a classe, mesmo em suas bicicletas, dentro do metrô ou andando pelas ruas, também pudera, em uma cidade tão linda, ainda mais linda nessa época do ano, no outono, com árvores de folhas secas e marrons que enchem os parques. É bom lembrar que parques não faltam em todas as cidades européias, o verde sempre tem seu lugar garantido, e o morador, assim como o turista, usa e abusa (no bom sentido) desses lugares. Divertem-se jogando bola, brincando com seus cachorros ou com as crianças, esticando-se no gramado para a leitura de um livro ou para um beijo na namorada, romantismo está no ar. Espanhóis e italianos também andam rodando o mundo, italianas bem arrumadas e maquiadas, bronzeadas, de saltos altíssimos, cabelos armados fazem par com seus italianos de calças e blazers extremamente bem cortados. Os espanhóis são descomplicados, “bem dados”, desarrumados, com cara de povo latino, saidinho, atrevido e, assim, vão indo. Os adolescentes são iguais no mundo todo, o mesmo jeito de vestir, falar (claro, só muda a língua) e de rir. Gostoso de ver, mas andam fumando muito, principalmente as meninas, uma pena. Ah… E nossos irmãos portugueses, uns amores, com certeza, oras pois. Portugal está despertando para o turismo, muitas obras em restauro e um jeito educado e caloroso de receber. São engraçados, reclamam muito, mas reclamam com eles mesmos, em voz alta, de uma maneira única, como um ritual de reclamação, um hábito local, e falam alto, como falam. E a hora da sesta é coisa normal, talvez esteja aí uma boa receita. “Então pronto”!
por Fabiana Langaro Loos
Coluna Fabulando – Jornal Página3 – Ano XIX n° 952 – 10/10/09
Fabi, Parabèns pelo teu sucesso internacional, tu è incrivel te admiro muito.
Tuas obras sao lindas.
Muito rock e beijos
da amiga Mariah
…lembrei de um texto que eu escrevi, que diz assim:Todo viajante é antes de mais nada alguém que busca, que procura. Todo viajante mais atento, tem a oportunidade de perceber, que existe algo que vai acontecendo durante o caminho, na imprevisibilidade de cada passo, a cada esquina que se dobra…
beijão,
Sou um dos seguidores do seu blog há algum tempo e sempre achei seus posts excelentes. Sem voltas, você foi certo ao X da questão e sanou todas minhas suspeitas sobre esse assunto. Continuarei seguindo seu blog enquanto continuar com o excelente trabalho. Meus parabéns!