Em tempos de consumo tecnológico em massa, desenfreado e frenético, onde textos correm rapidamente na tela do computador, a amizade é virtual, o aperto de mão virou um botão, as mensagens que chegam pela internet são lindas, mas o encontro ao vivo e em cores é extraordinariamente impessoal, fala-se do tempo. Ah, o tempo virou a melhor desculpa para qualquer compromisso ou qualquer situação. Mas será mesmo falta de tempo ou falta de organização?

Não vejo o tempo assim tão escasso como é conceito geral, acredito, sim, que o mau uso do tempo é que nos inviabiliza de termos mais tempo. Pessoas perdem horas e horas nas redes de relacionamentos, às vezes conversando, outras, apenas bisbilhotando, mas não têm tempo de responder um e-mail, nem que seja esse apenas para dizer “muito obrigado” ou “sim, recebi seu recado”. Pessoas perdem horas em frente à televisão e nem estão assistindo nada de útil, apenas estão zapeando, matando um tempo, mas não têm tempo para dizer um bom dia ao vizinho, ao porteiro ou a qualquer outro cidadão. Tenho um amigo que sempre me alertou “quando você for pedir um favor para alguém, peça para as pessoas extremamente ocupadas, essas terão um tempo para lhe ajudar”, e é um conselho que procuro seguir a qualquer tempo, pois sempre dá certo e, dessa forma, você não perde seu tempo. Precioso tempo.

Talvez a falta de tempo seja falta de foco nas ações. Você encontra tempo durante a semana para ver a Libertadores, o Brasileirão e mais todos os programas de mesas redondas em diferentes canais de televisão, mas falta tempo para brincar com o cachorro, para aparar o gramado ou para levar a esposa ao cinema ou para um singelo agrado. Apenas lhe cabe dizer que é o tempo andando na contramão. E como o tempo anda. E anda apressado, afoito, acelerado. Você está sem tempo para fazer um jantar saboroso e apreciar uma boa taça de vinho, sem tempo de trocar umas palavras com o amado, sem tempo de sentar-se tranquilamente e ler aquele livro que há tempos está guardado na estante, com a primeira página marcada. Mas você tem tempo para ligar para amiga e tagarelar da noite passada, falar mal da outra amiga, da sogra, da cunhada, do vestido da noiva, da indiferença do marido, da briga na novela, da moça que estava na festa e ganhou os mais cobiçados olhares, da empregada ou do tempo escasso. Você não tem tempo para ir à academia, mas para ir a boteco da esquina, beber uma cerveja gelada, o tempo é largo e demorado.

É preciso planejar o tempo como seu aliado. Não que não possamos gastar tempo com besteiras ou amenidades, mas saber adequar o tempo para as necessidades e para as futilidades, sem desculpas esfarrapadas e cansadas sobre essa tal falta de tempo, que virou mal da sociedade moderna, afinal, antigamente, nossas tias ou avós, quando reclamavam do tempo, era com referências às condições climáticas do dia ou do local, pois sempre encontravam tempo para tudo, desde o trabalho diário até um crochê ou um bolinho de cenoura, em meio às caçarolas, no final da tarde.

É necessário direcionar energia e sabedoria para as coisas certas, assim, tudo se encaixa no espaço correto, no tempo adequado, na concepção de vida, no horário marcado e, também, no ócio. Basta compreender que o tempo é constante, que não somos os donos do tempo, mas somos os donos dos atos e temos o poder da escolha. Saber escolher rege o tempo nosso de cada dia. Você faz sua própria escolha, então, escolha prudentemente e pare de culpar o tempo.

por Fabiana Langaro Loos

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