Por Fabiana Langaro Loos
Desde pequenos ouvimos fábulas, histórias e contos, alguns deles populares ao redor do mundo, em várias línguas, por vários povos, nas mais diferentes culturas. Outros, por sua vez, bem pertinho da gente, inventados por professoras, mamães, papais e titios criativos. Cada qual traz sempre uma mensagem. Algumas vezes, totalmente explícita, outras, porém, nem tanto, a mensagem fica subentendida nas entrelinhas. E, certas vezes, em certos contos, tão subentendida, que passa despercebida.
É o caso da fábula “A Cigarra e a Formiga”, atribuída a Esopo, mendigo contador de histórias da Grécia e recontada pelo poeta francês Jean de La Fountaine, “Tendo a cigarra, cantado durante o verão, apavorou-se com o frio da próxima estação. Sem mosca ou verme para se alimentar, com fome, foi ver a formiga, sua vizinha, pedindo-lhe alguns grãos para aguentar, até vir uma época mais quentinha. -Eu lhe pagarei, antes do verão, palavra de animal, os juros e também o capital, disse ela. -O que você fazia no calor de outrora?, perguntou-lhe a formiga com certa esperteza. -Noite e dia, eu cantava no meu posto, sem querer dar-lhe desgosto. -Você cantava? Que beleza! Pois, então, dance agora!”.
O foco da história é incentivar as crianças ao trabalho, a construir algo para o futuro, a preservar, a economizar, a estudar e a pensar no amanhã, ou seja, a moral da fábula aparece descrita em vários livros, “os que não pensam no dia de amanhã, pagam sempre um alto preço por sua imprevidência”.
Porém, se analisarmos melhor essa fábula, é nitidamente notório o descaso pertinente às questões culturais e, também, o preconceito em relação a certas profissões, sem falar no estado de ingratidão (e que formiga mal educada, não?). Essa inocente história descarta os músicos das profissões e, com certeza, poderíamos estender a bailarinos, pintores, poetas, atores e artistas das mais diversas áreas culturais. Será que a formiga teria trabalhado da mesma forma, com tanta vontade e inspiração, sem o canto da cigarra? A cigarra poderia ter vendido seu trabalho e, assim, ter seguido cantando pelo resto do ano, vivendo dos dividendos provenientes da labuta. Talvez seu erro foi se deixar levar apenas pela emoção e por seu dom artístico, esquecendo-se da organização profissional.
É triste ver como essa fábula contra a cultura ainda influencia a sociedade atual, principalmente nas sociedades menos desenvolvidas, onde muitos artistas são considerados “malandros”, não têm suas profissões legalmente reconhecidas ou precisam trabalhar no segundo turno para completar o ganha pão de todo o dia. Mas, aos poucos esse contexto cultural começa a ser observado com novos olhares, basta pegarmos a releitura contemporânea, muito mais divertida e cultural, da fábula de La Fountaine. Após receber a resposta da formiga, a cigarra sumiu da cidade, reaparecendo anos mais tarde, com a conta bancária bem recheada, havia sido descoberta em um bar por um produtor musical que a levou a Paris e lá, fez fama e teve seu trabalho devidamente reconhecido. E, assim, a cultura prevaleceu e ganhou respeito no reino animal.
(crédito da foto: divulgação)
É bem isso, Fabi! Numa sociedade capitalista, a arte não tem o devido valor e qualquer forma de talento é vista como dom nato apenas. Ignora-se que há que desenvolver e para isso despender vários anos de estudo e atualização constante. Um dia, quem sabe, a formiga responderá à cigarra: – eu a ajudo e você me ensina a cantar.
gostei muito mas queria a continuacao nao o q e a fabula
Show de Bola a visão crítica a respeito da fábula, comparando-a à nova maneira de organização do trabalho.
Parabéns!!