Ferve a paulicéia cultural

Com o ano da França no Brasil, quem visitar São Paulo nesse período, vai perceber que as exposições, em geral, estão muito mais cheias de gente, ah, como é bom ver (e sentir) isso. Perceber que  cultura ainda não é uma ilha distante e isolada faz muito bem para a alma e para todos os sentidos do corpo e, assim, fervemos com a arte.

Seja você da área cultural ou não, amante da arte há anos ou apenas um iniciante, não importa, ao entrar em um galeria ou um museu de arte você, instintivamente, começa a pensar diferente, ou seja, começa a analisar pequenos pontos e borrões de cores, estimular seu olhar, desvendar um mistério ou um sentimento esquecido, revelar uma nova maneira de pensar e, mais importante, com suas próprias pernas, oops, digo, com seus próprios olhos e coração. Afinal, arte é coração, é pulsante, é emoçao, é adrenalina, é estímulo para uma vida rotineira, sempre igual, não faz mal, mas por que não mudar um pouquinho e dar o primeiro passo para o inusitado?

Pessoas de todos os tipos, com diferentes caras, diferentes estilos, falando diferentes línguas, com vivências múltiplas e incompatíveis passam pelo mesmo local, olham as mesmas obras, mas o resultado é singular, pois cada pessoa é dona de um repertório próprio. Eu vejo uma ponte, você vê um ovo, como são ricos nossos universos e como o mundo precisa desses nossos universos distintos, dessa diversidade de pensamentos.

Ninguém está certo, ninguém está errado, afinal, depois de finalizada, a obra de arte passa a ter vida própria, conseguindo conversar com cada espectador e se revelar de maneira diversa. Ah, mas naquele espaço vazio nós conseguimos ver o mesmo vão, e o papo começa a fluir, a arte dentro de nós passa a fruir e, dessa forma, usufruimos dela, tiramos dela todo o se frescor, desfrutamos, aproveitamos, gozamos, respiramos. Aquietamos a alma ou aceleramos o passo, depende do momento, da situação, do local e do retorno que a arte irá oferecer a cada pessoa e como cada indivíduo irá assimilar o conjunto, a paleta de cores ou as idéias embutidas no conceito, na história e na criação.

Se outrora a arte era para uma elite, hoje, arte é para todos, é universal, é poesia que embriaga e impulsiona nossos sentidos a construir novos significados, transcende nossas próprias possibilidades. Toda arte é a expressão que projeta o comportamento psicofisiológico do artista, constrói uma nova composição através de diferentes olhares do público. Portanto, aqui ou acolá, a arte esté sempre a sua (a nossa) espera. Como diria o poeta Bento Nascimento, “Não morra no trevo, não fique nas trevas. Atreva-se”.

E… já que estamos falando da capital paulista, que tal algumas dicas culturais imperdíveis? Não deixe de visitar a exposição de VIK MUNIZ no MASP, lindíssima, diferente, contagiante, vibrante, para apreciar com calma, são 131 obras repletas de detalhes. No MASP visite também TERRA EM TRANSE  de MANUEL VILARIÑO, o feiticeiro da natureza morta e O REALISMO, a exposição arte na França de 1860 a 1960. Outra dica legal é a CHOQUE CULTURAL (Rua João Moura, 997 – Pinheiros), que apresenta a coletiva CALIGRAFIA, com 40 artistas do mundo todo, mas olho mesmo é para as paredas da galeria, isso já é uma diversão à parte, fui lá com a toda fofa e amiga de longa data Viviana Torrico Benedan. MULHERES DO PLANETA  é a mostra que está rolando na Oca, no Parque Ibirapuera, na qual o artista plástico francês TITOUAN LAMAZOU  mostra trabalhos decorrentes de uma viagem de 7 anos pelo mundo, traçando perfis das mais variadas mulheres, o resultado está registrado em quase 3 mil obras, entre pinturas, fotografias e vídeos, portanto, reserve um bom tempo para ver tudo. No MAM você poderá participar de um delírio fotográfico visitando a exposição da coleção do casal franco-suiço Michèle e Michel Auer e, na sala ao lado, poderá verificar a produção dos nossos designers canarinhos, pois o design brasileiro está com a bola cheia mundo afora. Sou bastante suspeita para falar, mas uma boa dica também é visitar PONTES DO MUNDO TODO na Galeria Mali Villas-Bôas (Rua Tabapuã, 838, Travessa Alex Vallauri,5) no Itaim Bibi. Sobrou tempo e disposição? Faça uma visita, com direito a uma saborosa parada em um dos cafés, na Casa Cor São Paulo 2009, no Jóquei Clube. É bom lembrar que em todos esses lugares sempre há uma livraria com ótimos títulos, principalmente sobre o mundinho da arte e, se bater um desejo consumista mais forte, uma sugestão é a lojinha do MAM, lá você irá encontrar, entre vários objetos, presentinhos e livros, os bárbaros anéis de resina de poliéster do designer Carlos Alberto Rezende SOBRAL e, assim, ainda poderá contribuir com a manutenção do museu, pois todas as vendas são revertidas à instituição.

Agora… boa viagem!

por Fabiana Langaro Loos (após 5 dias na capital paulista)

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