Cada panela tem sua tampa

Platônicos, conturbados, harmônicos, distantes, mirabolantes, tranquilos, ardentes, são assim os relacionamentos. E não precisam ser apenas de um tipo, podem ser diferentes a cada dia, só depende da gente e da outra parte, claro, que compõe cinquenta por cento da relação, quando esta relação é apenas formada por duas pessoas.

E, relacionar-se não é das tarefas mais fáceis para o ser humano, desde um simples relacionamento no emprego, passando pelo de irmãos, tios, sobrinhos, amigos, vizinhos, namorados, até o “felizes para sempre” dos casais, e enfatizo, casais de qualquer sexo, pois relacionamento é ato de convivência e de comunicação, indiferente de suas partes serem homens ou mulheres. Talvez, se a frase fosse trocada pelo “infinito enquanto dure”, as pessoas pudessem viver sem pressão, mais tranquilas, levando a vida numa boa. Mas, quem disse que o ser humano não gosta de viver constrangido, apertado, coagido ou obrigado? É comum encontrar quem diga “eu trabalho melhor sob pressão”, então, seguindo essa lógica, algumas pessoas amem mais intensamente sob essa bendita pressão, infelizmente. E, dessa forma, cobram tudo do outro, se saiu, se ficou em casa, com quem saiu, que horas voltou, o que comeu, quem comeu e se comeu, sem mencionar todos os “porquês” e “poréns” que vêm na bagagem de toda e qualquer relação.

Com tantas preocupações e chateações por que manter um relacionamento? Oras, o homem é um ser sociável, ou dito como tal, pois nem sempre suas ações (e agressões) caberiam em uma sociedade civilizada, mas cada qual tem suas qualidades e defeitos que precisamos entender, ou arrumar um jeito tranqüilo de suportar e conviver, pois não há ser humano perfeito, há sim, aqueles que se encaixam de uma forma relativamente harmoniosa, afinal, diz o velho ditado “cada panela tem sua tampa”.

Panela torta tampa torta, não é? E assim, cada pessoa, em qualquer tipo de relação, acaba por encontrar o seu par. Para confirmar, eu pergunto, você, boa pessoa, que paga suas contas em dia, que mantém a ficha policial em branco, casaria com um salafra, um corrupto, um ladrão? Ou alguém educado aguentaria um mal educado por muito tempo? É claro que não. Você conseguiria trabalhar com alguém que não mantém o mesmo padrão de honestidade que o seu? Também não. Algumas afinidades até são passíveis de adaptação, gosto por esportes, modos de organização e de limpeza, ativo e passivo, quem lava, quem passa, quem arruma e quem desarruma, escolhas por estilos musicais – apesar de que eu nunca teria um companheiro, sertanejo, fanqueiro, muito menos pagodeiro, mas essa história fica para uma outra hora – entre outras inúmeras maneiras de negociar, ou melhor, de saber negociar a vida em parceria. Porém, alguns sentimentos não podem ficar de fora quando o assunto é relacionamento, atração, cumplicidade, e o mais importante deles, amor. Apesar de que amor sem atração fica muito morno, sem tesão, assim como amor sem cumplicidade não institui base para uma relação confiável e clara.

Portando, relacionar-se é tarefa árdua, é preciso, acima de tudo, saber respeitar a individualidade, o espaço e o momento de cada pessoa. É preciso acreditar que vai dar certo, pois relacionamento que já começa com dúvidas, inicia com grande probabilidade de esvair-se no tempo. Relacionamento é um vínculo, uma ligação, uma referência e, casamento, então, é um contrato, seja ele abençoado, assinado ou apenas amasiado. O essencial é acreditar na receita escrita por você e seu parceiro, aperfeiçoando-a de vez em quando, ou quase sempre, arrumando-a conforme a necessidade e a situação. Paciência, também é uma grande virtude que não pode ser esquecida, de ambos os lados, assim como, jogo de cintura e uma certa dose de maleabilidade, evitando o não desejado. Relacionar-se é uma arte e é preciso muita irrigação.

Por Fabiana Langaro Loos

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