Ainda tenho esperança

Não espero compreensão total, basta-me um pouco dela. Ainda tenho esperança que todos possam ser um pouco artistas ou, ao menos, sentirem-se artistas por um curto período de tempo, com a finalidade de enxergarem o mundo como eu, ou seja, como qualquer artista consegue ver, com arte em todas ações do dia. Perceber como as nuvens têm mil tonalidades, que a calçada não é só cinza, que no verde das flores dos canteiros que enfeitam a cidade também há amarelo, azul e outras gamas de cores.

Ainda tenho esperança que as crianças de hoje sejam os adultos de amanhã ligados em arte. Que não passarão ao lado de uma escultura sem deixar de apreciá-la. Que enxergarão além das cores de um quadro, passando a interpretá-lo com o coração. E, estarão presentes na vida cultural de sua cidade, não porque é cool ou cult falar de arte, mas sim, porque a arte faz parte da vida de cada cidadão.

Quero acreditar que visitar uma galeria de arte, um museu, ir à biblioteca pública e a um sarau literário se torne um hábito. Continuo a ter esperança que toda pessoa leia ao menos um livro de arte em sua vida. E que leia apaixonadamente para que, no ano seguinte, possa ler dois, três, dez livros, até aumentar essa cota consideravelmente.

Tenho esperança que a cultura se torne cada vez menos elitizada e mais popular. Que possamos ter um belo teatro em cada cidade e ir ao teatro seja possível a todas as classes sociais. Que, ao invés de perambular pelos shoppings, os adolescentes do futuro visitem as bienais e troquem seus messengers, orkuts e afins por sites culturais.

Quero parar de falar sobre arte apenas com outros artistas plásticos, quero falar de arte e dos acontecimentos culturais da região e do mundo com meus vizinhos, com o feirante, com o empresário, com o vendedor, com a diarista e com o professor. Ainda tenho esperança que a Câmara de Vereadores participe das exposições da cidade com entusiasmo, que o Prefeito se faça presente nos eventos culturais não por obrigação, mas como alimento da alma e que seu Secretariado compareça na Galeria de Arte, no brique Cultural ou no arquvo Histórico a fim de olha a arte, olhar o artista, olhar o aprendiz, com o intuito de incentivar a cultura e não para bater cartão.

Quero e preciso acreditar que, no futuro, as pessoas não irão olhar a arte como a compra de um vestido ou de um carro, compreendendo que a arte se valoriza, enquanto que a roupa nova, em curto prazo de tempo, cai de moda e o carro, hoje novo, com o passar dos anos, diminui seu valor. Dessa forma, qualquer artista, músico ou escritor terá respaldo para viver e sobreviver de sua arte, sem precisar de outro ganha-pão.

Tenho esperança que quando eu esteja bem velhinha, na casa dos noventa, possa colocar meu cavalete todos os dias na beira-rio ou na calçada da praia e pintar tranqüilamente, pintar até o cair do dia, sem que ninguém me chame de louca, esquizofrênica ou gagá. Mas que diga: lá vai a artista viver mais um dia de cor.

por Fabiana Langaro Loos

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One thought on “Ainda tenho esperança

  1. Ao ler Fome Animal, lembrei de um texto do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano:
    “O mundo é isso – um montão de gente, um mar de foguinhos.
    Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as demais.
    Não existem dois fogos iguais.
    Existem fogos grandes e fogos pequenos e fogos de todas as cores.
    Existe gente de fogo sereno, que nem se intera do vento, e gente de fogo louco, que deixa o ar cheio de faíscas.
    Alguns fogos, fogos bobos, não alumbram e nem queimam; mas outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem tocar, e quem chega perto, se incendeia”

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