Frases escondidas, meias palavras, interpretações erradas, expressões incompletas, momentos em surdina. Um provável início de conversa, um sussurro, uma resposta acanhada, um monossílabo. Um coração aflito, uma esperança vaga, um jeito tímido, um sorriso retraído, uma decepção ressonante, uma desilusão real. A hora errada, a fala apagada, o orgulho ferido, a dor contida, a ação postergada, o momento perdido. O desenrolar da vida.
Ser humano intimidado, pensante, razão sobreposta ao coração. Histórias alinhavadas sem pontos. Frouxas, estranhas, pouco vestidas. Argamassa fina, fora do ponto. Olhar argüido, sem retórica, sem passado, evasivo, arisco. Um sopro fino, um pavio curto, uma fresta na janela, um ato mal interpretado, uma certeza errada. Medo de propor, literalmente, um sentimento reservado.
É cada vez mais distante a relação das pessoas, distraídas por mazelas insignificantes, distorcidas, banais. Cada um na sua caixa fechada, deixando de ser atrevido ou ousado, com receio de ser rotulado como safado. Listas, manuais, scripts, ensaios, uma longa espera para ser o protagonista de sua própria vida. Medo de ser transparente. Medo de errar. Medo de não ser aceito como gostaria. Interposições além da conta, simplicidade esquecida e nada de gente bem resolvida.
Entre laços e caveiras, avançar ou retrair? Liberar espaço, aceitar uma proposta e ignorar as diferentes medidas ou se manter na retaguarda, à espreita, tal e qual um soldado, que age após a movimentação de seu alvo. Seguir a intuição, colocando-se à mostra, desvendando-se, sem qualquer tipo de algemas, dúvidas ou impedimentos, impostos por seus próprios regulamentos, sendo intenso e pulsante ou ficar apenas na fantasia, delirante, sem deixar-se apaixonar pela vida, com medo constante, com uma lista exagerada e dramática de questionamentos, com números precisos, sem oportunidades para experimentar o doce deleite das relações.
Vento rasante ou tempestade intensa, uma decisão solitária. O tempo passa e a escolha se torna mais difícil. Porém, o caminho nunca é fácil, é preciso estar seguro para tomar a decisão, desvendando-se sem neuroses ou preocupações, com alma livre. As pessoas estão cansadas de cenas e mentiras, precisam de cores, suspiros e coragem para identificar os diferentes caminhos, reinventando-se quando necessário. Sem fórmulas mágicas e sem medo de se abrir. Fácil dizer sim ou não, as dificuldades sempre ficam nos porquês. E, às vezes, para ser feliz, é melhor esquecê-los.
por Fabiana Langaro Loos