No fim, o tempo ensina

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Tempo. Um substantivo tão condenado pela maioria das pessoas, que constantemente e abertamente, declaram-se sem tempo. O tempo já virou o vilão de tantas e tantas histórias, desculpas, irritações e mau humor. Esse mesmo tempo que rege o dia a dia dos seres humanos, a cronologia da vida, o limite e o espaço que temos para a realização das tarefas do cotidiano, dos projetos idealizados e dos sonhos esperados.

O tempo ameniza. O tempo perdoa. O tempo seleciona naturalmente os fatos que queremos lembrar para o resto da vida, aqueles que verdadeiramente merecem nossa atenção. O resto acaba no limbo, esquecido com o tempo e deixado para trás. E as pessoas continuam reclamando do tempo. Ah, se o dia tivesse quarenta e oito horas ou, pelo menos, seis horas a mais. É óbvio que retornaríamos a lamentar, sem tempo para fazer tudo que queremos. Talvez, esse seja o problema, queremos demais. E, cada vez mais, estamos sem paciência para esperar o devido tempo de tudo, afinal, cada coisa tem seu tempo e seu lugar.

Seja a sucessão de horas, dias e anos, seja o momento apropriado ou disponível para a realização de alguma coisa, não importa, o tempo passa rápido, e a sensação de perder tempo é cada vez mais assustadora. Mas é através do tempo que somamos vivências, que adquirimos sabedoria, que contamos anos, amigos, experiências e histórias. Em alguns momentos queremos que o tempo fique estagnado, como se o momento pudesse ser mais aproveitado, porém, em outros, tomando por conta a habitual incoerência do ser humano, pedimos que o tempo acelere, que a hora passe voando, que venha outro instante, porque aquele precisa urgentemente ser esquecido ou ultrapassado e, logo mais, voltamos a falar da falta de tempo, do contratempo contra o tempo.

A relação homem-tempo está cada vez mais complicada. Talvez pela falta real de tempo, talvez pela forma errada de uso do tempo, talvez pelo próprio exagero das pessoas, que sentem prazer em se queixar. Tal reclamação, de tão corriqueira, já está banalizada, envolta à desconfiança e ao descrédito. O pobre homem contemporâneo, sempre imerso em dúvidas e questionamentos, ainda não compreende se perde tempo de verdade ou tem apenas a sensação da perda. Tempo de ir embora, tempo de ficar. Tempo de telefonar, tempo de esperar. Tempo de estudar, tempo de trabalhar. Tempo para os filhos, tempo para os amigos. Tempo no congestionamento, tempo na frente da televisão. Tempo para o amor. Tempo de máquina do tempo. Tempo de guardar o relógio. Tempo de agir, tempo de fugir. Tempo que está por vir, tempo que se foi.

O tempo nos apavora constantemente, mas é bem ele que nos proporciona um crescimento natural e, sem bem aproveitado, somado a outros recursos, intelectual. Basta acertarmos nossos ponteiros, sincronizando o saber viver ao uso adequado do tempo e aos anseios que nos afligem, pois se passa lenta ou rapidamente é uma questão de olhar, mas temos certeza que passa – feitiço do tempo. Então, já é tempo para uma reavaliação sobre essa questão temporal, afinal, o tempo traz o melhor remédio, o tempo ensina.

por Fabiana Langaro Loos

(Pintura de Dali / 1954 – Soft watch exploding in 888 pieces after 20 years of total immobility / Saint Petersburg Museum – Florida – USA)

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