Carta de indignação

Fundação Cultural de Balneário Camboriú está enterrando a cultura local

A Fundação Cultural de Balneário Camboriú irá fechar a Galeria Municipal de Arte, localizada na rua 2412, 111, aprovada pela Câmara de Vereadores e aberta ao público em 08 de julho de 2005. Desde então, a Galeria vinha apresentando uma exposição de arte por mês e, anteriormente a sua inauguração (anteriormente à criação da própria Fundação Cultural) as exposições eram realizadas no Centro de Cultura. Todavia, podemos dizer que foi um progresso cultural para a cidade a abertura desse espaço público tão esperado e tão requisitado pela comunidade e principalmente pela classe artística local.

Nesse mesmo espaço funcionava a sede administrativa da Fundação Cultural de Balneário Camboriú e que será devidamente “socada” no mesmo prédio da Biblioteca Municipal e Arquivo Histórico. Uma lástima, pois sabemos que o espaço físico é insuficiente para receber todos os empregados, todos os cursos, todo o conteúdo, todos os móveis e, obviamente, podemos concluir que não poderá crescer, nem o que já existe por lá, ou seja, os volumes da Biblioteca Municipal e o acervo do Arquivo Histórico, nem mesmo o que de novo se apresenta. Talvez, para os funcionários não se esbarrarem, afinal, não haverá salas para todos, façam um revezamento. Oras, isso é brincar com o dinheiro público, é brincar com a cultura, é fazer os habitantes da cidade de palhaços.

Como artista plástica (e cidadã), somente me cabe dizer: incompetência, amadorismo, retrocesso. É lamentável uma decisão desse tipo. O presidente da Fundação Cultural, Eduardo Meneghelli, se realmente faz parte da classe artística da cidade e tem consciência do cargo que ocupa, ou seja, não é um mero fantoche, deveria lutar pelo crescimento da cultura local e não pelo seu encolhimento e empobrecimento. É triste, é vergonhoso!

Se o nosso tão aguardado Teatro Municipal já estivesse pronto, o problema poderia estar sanado,  afinal, seu o projeto arquitetônico vislumbra um espaço para a Galeria Muicipal e para a sede administrativa da Fundação Cultural de Balneário Camboriú. Mas para essa gente que está no governo, isso seria pouco. Então, melhor não ter nada. Claro, dá trabalho manter a galeria aberta, lidar com artistas não é fácil, organizar uma exposição todo mês, divulgar para a imprensa, receber alunos e visitantes também dá trabalho, logo, é melhor fechar. Mas é o dinheiro do povo que paga esses funcionários, justamente para trabalharem e não para “coçarem o saco” fazendo de conta que estão trabalhando.

Além disso, cadê o Conselho Municipal de Cultura? Os conselheiros aprovam esse ato insano da Fundação Cultural de Balneário Camboriú? Conselheiro não é para bonito nem para dizer amém a tudo. Ao contrário, nessas horas cada Conselheiro Municipal de Cultura deveria honrar a função que lhe foi confiada, afinal, é um representante da comunidade e não uma vaquinha de presépio do Senhor Prefeito.

Dói muito ver nossa cultura sendo enterrada, tratada “mal e porcamente”, jogada às traças, em mãos de pessoas que já mostraram ser inoperantes. É só pegarmos o que existia antes e o que existe agora. É só fazer uma visita na Fundação Cultural para ver como tudo é atrapalhado, é só tentar falar com seu Presidente que nunca atende ninguém.

E os vereadores, não podem fazer alguma coisa? O Ministério Público não pode ser manifestar? É de interesse da população. Não se acaba assim, sem mais sem menos. É bom lembrar que a abertura da Galeria Municipal de Arte e de cargos da Fundação Cultural passaram pela aprovação da Câmara de Vereadores em 2004 e 2005. Então, pela lógica, se não tem mais Galeria Municipal de Arte, os cargos de Diretor de Artes e Coordenador de Artes também não precisam mais existir. Ou pagaremos salários somente pelo título, para empregar pessoas que trabalharam em campanha eleitoral sem as devidas qualificações na área que atuam? Fazer um protesto com os artistas e a comunidade? Não sei se adiantaria. Só posso dizer que estou profundamente triste. Minha vontade é passar pelas ruas da cidade carregando um caixão preto com o nome de Cultura, pois é assim que atualmente vejo a cultura local, não caminha para frente, mas sim, faz igual a caranguejo e só anda para trás.

Sinto dor.

Fabiana Langaro Loos, artista plástica e cidadã de Balneário Camboriú.

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5 thoughts on “Carta de indignação

  1. Uns aram o solo, outros jogam as sementes, cuidam para os passarinhos não comer, regam…
    O triste é que os que poderiam estar colhendo os frutos (e levar as glórias) não sabem lidar com a plantação. Lamentável.

    Não é só você que sente dor…

  2. Já que gostam tanto de comparações com o passado…
    NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESTA QUERIDA CIDADE, HOUVE TANTO DESCASO COM A CULTURA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Enquanto o mundo luta pela inclusão social, por aquí se vive a mais dura realidade: a EXCLUSÃO SOCIAL!!!!!!!
    Conto com a inteligência de nossos representantes para que reconsiderem

  3. Lamentável…

    Fico muito triste com as notícias atuais da cultura. Para quem está acompanhando os jornais, e não somente este, percebe que não se tem o desenvolvimento de uma política cultural e há carência de investimentos na estrutura já existente. Questiona-se a veracidade das denúncias, mas onde há fumaça, há fogo, e não conseguem se explicar.

    Permita-me citar o Diarinho do final de semana, onde as informações dadas pelos assessores de comunicação Rafael e Jeane são contraditórias. A própria Jeane se contradiz. O presidente da cultura não se pronuncia. E na Cultura adota a estratégia do Presidente Lula – “não tô sabendo de nada”. No Pg3, os funcionários e o coordenador confirmam as denúncias.

    Cultura, este código de crenças, valores e costumes, diz não somente quem fomos, mas quem seremos. Pelo que vejo, estamos entrando numa crise existencial. Vai ver, somos o periquito na cabeça do coelho.

  4. LEMBRETES

    A Fundação Cultural de Balneário Camboriú, quando criada, iniciou suas atividades com grandes desafios: administrar setores já funcionais com orçamento de um departamento, ampliar o campo de atuação, estabelecer metas e executá-las. Para isto contava com um pequeno e comprometido corpo diretivo, com a determinação do Prefeito e apoio dos Conselhos constituídos.

    Uma vez constatadas as necessidades da cidade, duas delas se mostraram prioritárias, um espaço cultural para realização de exposições e um lugar adequado para abrigar o Arquivo Histórico Municipal e a Biblioteca Pública Municipal Machado de Assis.

    Logo foi aberta a Galeria Municipal de Artes na casa em que funcionou anteriormente o departamento de cultura. Apesar de provisório, foram promovidos ali exposições de Arte, palestras, apresentações musicais e performáticas, lançamentos de livros, numa integração entre Artes, artistas e publico. Pela participação da comunidade local, visitantes e publico escolar nos eventos culturais da Galeria, foi confirmada a necessidade de projetar-se um lugar apropriado e definitivo para o seu funcionamento.

    Tal lugar foi garantido no prédio que abrigaria o Teatro e a Sede Administrativa da Fundação Cultural. O projeto foi amplamente discutido com a comunidade em audiências públicas, apresentado ao Ministério Público e aprovado pela classe artística. Ocupando uma área central da cidade, atenderia ao público local e ao turista, integrando diversas manifestações culturais, linguagens artísticas, ações educativas e preservando um espaço aberto para o funcionamento da tradicional feira livre de frutas e verduras, feira de artesanato e apresentações de arte popular.

    A obra encontra-se paralisada.

    Acreditando que o que move o desenvolvimento social são a educação e o conhecimento da população, e que um acervo bibliográfico e histórico contem arte e cultura, optou-se pela urgente ampliação e reforma do prédio do antigo Centro de Cultura para abrigar a Biblioteca Publica e o Arquivo histórico.

    Não se pode negar a importância da Biblioteca como um espaço democrático, fonte de informação e lugar de apropriação do conhecimento. O acesso irrestrito a Biblioteca estimula a leitura, a pesquisa e o entretenimento.

    O Arquivo Histórico, também foi merecedor da atenção, pois o conhecimento das origens torna mais seguro o caminho para o futuro. Nossa jovem e pequena cidade, atípica desde sua formação, tornou-se grande pólo turístico e universitário e destino permanente de pessoas de diversos lugares, contendo assim uma boa bagagem histórica.

    O administrador público precisa ser consciente da importância de tais espaços e que eles carecem do cuidado permanente para o seu bom funcionamento. Assim como é feito pela iniciativa privada, tornam-se necessários a atualização, ampliação e restauro dos acervos, a manutenção dos espaços físicos, a busca por profissionais habilitados e o acompanhamento do desenvolvimento tecnológico disponível.

    Lígia M. M. Spernau
    Artista Plástica

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